Muitos pensam que as estruturas narrativas das peças shakesperianas até são compreensíveis, mas que sua linguagem poética e a “imagética” são muito rebuscadas para a maior parte das pessoas. Acontece que na época de Shakespeare isso não era assim, seu teatro era integralmente universal, tanto pela sua temática, como pelo seu alcance; de fato, havia lugar para as pessoas das mais variadas condições, do pobre espectador, que assistia aos espetáculos de pé, à rainha, que tinha seu trono reservado no teatro de Shakespeare, que recebeu justamente o nome de Globe Theatre. E ainda hoje podemos retomar sua universalidade, se acharmos a mediação adequada para tal objetivo.
Foi essa busca de trazer para o ouvido do público brasileiro poesias, músicas e grandes trechos de peças de um dos maiores poetas de todos os tempos que levou o diretor, Roberto Mallet, a criar a concepção dessa peça, fazendo com que essas palavras escritas nos séculos XVI e XVII fossem ditas por personagens retiradas de nosso imaginário interiorano, repleto de alegria, paixão e bom-humor.
Assim, Osmar, Chico, Rosa, Bastião, Robson e Gilda cantam as canções das peças de Shakespeare, declamam seus poemas e ainda se deliciam com citações, e outros trechos desta obra monumental, dividindo-os em três grandes temas: o Amor, o Tempo e a Morte. E é entre essas declamações e canções que aparece as relações dessas personagens entre si, fazendo com que esse sarau “elaborado” por caipiras aspirantes a atores e declamadores tenha um tom leve e descontraído, onde o “profissionalismo” não tem lugar e o calor de suas emoções e ardor de suas paixões contagiam até a platéia.