Canto de Outono é uma reflexão poética sobre a situação do homem contemporâneo. Desde 1992, o Grupo Tempo vem desenvolvendo sua pesquisa no sentido de criar espetáculos que sejam um lugar de meditação e de confronto com os temas mais fundamentais da nossa existência.
Utilizando a estrutura narrativa das moralidades e dos autos medievais como princípio de construção cênica, Canto de Outono não utiliza um linguagem naturalista. É antes uma parábola sobre a aventura espiritual do homem, sua busca de si mesmo e as muitas vicissitudes e tentações que se apresentam nessa jornada.
A peça nos apresenta como protagonistas dessa história um casal que, como o “Adão e Eva” bíblicos, representam ao mesmo tempo toda a humanidade e cada um de nós mesmos. Como nos autos medievais, esse casal debate-se entre os apelos mais baixos da nossa natureza e os anseios de beleza e de verdade da consciência. Essas tendências antagônicas correspondem ao papel que desempenhavam, no teatro medieval, as figuras dos anjos e dos demônios.
Embora a estrutura e a temática do espetáculo sejam medievais, sua linguagem é absolutamente contemporânea. A história desenvolve-se em saltos e elipses, com marcados elementos simbólicos, sem obedecer a uma lógica realista e ilustrativa.
Em Canto de Outono o Grupo Tempo reafirma seu postulado poético fundamental: em seu teatro, é a partir do trabalho do ator, primeiro como criador e depois como veículo e motor da ação dramática, que tudo se organiza. Todos os outros aspectos da cena nascem e se desenvolvem a partir desse elemento central – o homem que age.