A idéia da peça nasceu da vontade de articular esse tipo de encenação religiosa e solene com a simplicidade no modo de contar e representar tão característica do povo caipira. A solução da narração feita pelos tipos caipiras tem uma finalidade análoga à do espetáculo Shakespeare Procêis – berço dessas mesmas personagens.
Do mesmo modo que lá elas são usadas como mediação para a popularização do autor britânico, aqui, fugindo da armadilha de querer representar os maiores santos da história – Maria e José – e este acontecimento por demais grandioso – o nascimento do Cristo –, eles se sujeitam à indigna missão de contadores dessa história milagrosa, afastando-se de uma linguagem realista, provavelmente insuficiente para transmissão não só da história, mas da relação que o povo brasileiro tem com ela através da fé.
Assim, a ponte está feita, as personagens são ao mesmo tempo atores e público, representam e se encantam com o que representaram, e desse modo humilde e verdadeiro vão tornando presente seu Auto de Natal.